POR SANTA MARTA DE PORTUZELO

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quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Salvando-se do esquecimento... Sebastião Pereira da Cunha

SALVANDO-SE DO ESQUECIMENTO

Referência aos vultos literários e outros, da nossa terra e vizinhos, de aquém e além, merecedores de memória, que se imortalizaram pelo legado artístico e, assim, libertando-se da lei da morte não caíram no vaso do esquecimento.
Servirá este espaço para apresentar excertos sobre poetas, dramaturgos, romancistas, contistas, cronistas e de todos aqueles que de uma forma ou outra se dedicaram à arte da escrita, exarando sobre a visão do(s) mundo(s).

Sebastião Pereira da Cunha (1850- 1896)
Poeta e prosador, senhor do castelo de Portuzelo, deixou várias obras como Saio da Malha, Serões de Portuzelo e Cidade Vermelha. Foi um dos últimos poetas românticos, reuniu várias vezes em sua casa, Guerra Junqueiro, António Feijó e outros vates do movimento romântico.

PORTOZELLO*
Do Minho cândida filha
O’ minha aldeia sem par,
Como és linda, prateada
N’uma noite de luar!

Tuas modestas casinhas
Nada, em graça, há que a eguale;
São como pérolas, soltas
Debruçadas sobre um valle.

Ao longe, o vulto massiço
De frondosos pinheiraes,
A roçarem pelas nuvens
Com as cimas colossaes.

O presbyterio, phantasma,
Que recorta o céo azul;
Um vergel cada montanha,
Um jardim cada paul.

Da egreja ao lado se altêa
Um gigantesco cipreste,
Verde columna, sustendo
Toda a abobada celeste.



O rio lá está... de manso,
Com a face a reluzir,
Qual vasto espelho... O’ meu Lima
E’s um sultão a dormir.

Dos altos montes a sombra
Vae-se no rio estampar,
E as capellas, que há por ellas
N’agua estão inda a alvejar

D’aquella encosta na espalda
Branda sussurra uma fonte,
E corta a musgosa relva
P’ra o rozal que está defronte.

Os roxinoes cantam  lânguidos
D’entre o arvoredo gentil;
Nem têem fim aqui seus cantos,
Nem aqui tem fim Abril.

E em cada folha de arbusto,
E em cada estrella dos céos,
E em tudo... na minha aldeia
Soletro o nome de Deus.

 * mantém-se  a ortografia arcaica em todo o poema


Por Santa Marta de Portuzelo