25 Anos da Escola Pintor José de Brito
Quando recebi o convite da senhora Diretora Executiva da E.B.2-3/S Pintor José de Brito, Dra. Ana Brito, para comparecer no dia 18 de Fevereiro de 2011, data comemorativa das bodas de prata, para relatar, num tempo aproximado de 10 minutos, a história do processo de construção daquele edifício, entre 1977 e 1985, período em que fui total responsável, como presidente da junta, fiquei muito sensibilizado por tão gentil e honroso convite e, ainda, com o sentimento sincero de me sentir praticamente recompensado do enorme esforço que despendi, no decorrer daquele processo. Para que conste e fique registado no blogue “por Santa Marta”, decidi enviar não a totalidade do discurso efectuado naquele dia, por ser demasiado extenso, mas somente a parte final, para ser lido pelos Santamartenses, que não puderam estar presentes.
“12º.-Em Março de 1985, recebi directamente do gabinete do Ministro das Obras Públicas um ofício a comunicar a disponibilidade da indispensável verba para a obra tão desejada.
13º.-Uma sensação de alívio e de alegria incontida percorreu o meu espírito e ao mesmo tempo sentia-me orgulhoso por ter cumprido o meu dever, depois de tantas canseiras, lutas intensas, noites e madrugadas consumidas, com a certeza que tal empreendimento ia mudar o rumo da minha aldeia e que o mesmo passaria de certeza a ser dali em diante o motor responsável pelo progresso económico e desenvolvimento cultural.
Pouco depois, em fins de Março, recebi na sede da Junta, cerca das 18 horas, um telefonema misterioso, oriundo do Porto a comunicar-me que a referida verba ia ser desviada para acudir a obras urgentes, consideradas prioritárias, na Universidade de Vila Real, em Trás-os-Montes, por se encontrar, segundo me informaram, em degradação acelerada por ocorrência de intempéries recentes. Não queria acreditar. Não passava de uma brincadeira estúpida, mas a voz misteriosa insistia na verdade da notícia.
O mundo desabou sobre os meus ombros. Os inimigos e os fantasmas juntaram-se todos na ponta final para me aniquilarem. Isto só podia acontecer, pensamos todos, porque, no decorrer do ano de 1985, se iam realizar as eleições autárquicas. Reuni a Junta e fiz-lhes saber que em situações extremas se devia responder com medidas ou tomadas de posição extremas. Estava de novo pronto para a luta, ao propor em termos individuais, para não sacrificar o Secretário e Tesoureiro, Professor José Agostinho e Engenheiro António Carvalhido e assumir por inteiro, como rosto visível e representante legítimo da freguesia, uma greve de fome, que seria desencadeada à porta do Governador Civil, até à resolução definitiva, no diálogo obrigatório que ele teria de estabelecer com o governo.
Minutos depois e pelas 19 horas, como era habitual, apareceu o Zé Augusto, membro da Assembleia de freguesia, a perguntar-me se precisava de alguma coisa. Olhou para mim e disse: Porque é que estás tão triste? Puxei-o para um canto e relatei o conteúdo do telefonema misterioso. Resolvemos partir imediatamente para a cidade do Porto, em direcção à casa do meu amigo José Henriques. Telefonei à minha mulher, a dizer que não jantava em casa, paramos rapidamente em Darque para comprarmos duas sanduíches que substituíram o jantar.
Chegados ao Porto, o meu amigo José Henriques, surpreso, perguntou o motivo da visita. Depois de saber os meus propósitos (greve de fome) chamou-me maluco e, muito solícito como era habitual, diligenciou pelo telefone, junto do Director-Geral das Construções Escolares do Norte, para apurar a verdade da notícia telefónica, tendo sido informado da sua veracidade. Com muita insistência, agendou para o dia seguinte um encontro pelas 10 horas, na Direcção-Geral. Como estava combinado, parti cedo, na companhia do meu irmão mais velho António, falecido em Janeiro do ano findo, que quis partilhar comigo esta situação difícil e na hora aprazada lá nos encontramos. Num registo e tom intermédio lá se discutiu mais de uma hora, tendo apresentado os meus argumentos, achados por mim inquestionáveis, por considerarmos ter havido muito recentemente ao nível governamental decisões definitivas e no nosso ponto de vista consumadas. Para nossa surpresa, e passado aquele período, decidiu então o senhor Director-Geral, após alguns telefonemas, que dali a 15 dias, salvo erro, numa quinta-feira, um camião da empresa construtora partiria para Santa Marta, com um caterpillar, para em definitivo derrubar o muro da propriedade, onde se iria iniciar a construção. No dia indicado, no centro da freguesia, em frente ao Cruzeiro, esperei mais de uma hora, com o ritmo cardíaco acelerado e ansiedade indescritíveis, como podem imaginar, ainda com receio de não vir a ocorrer o combinado. Como diz o Povo, gato escaldado de água fria tem medo. Finalmente lá apareceu. Mandaram-me subir para a cabina, onde se encontravam o motorista e um representante da empresa. No local, depois de efectuarem a manobra de descida do Caterpillar, o maquinista convidou-me a subir e coloquei-me ao seu lado. O caminho era muito estreito e com muito cuidado lá fomos andando. A determinada altura, pergunta o motorista: Ó senhor Presidente, onde quer que deite o muro ao fundo! Pode ser mesmo aqui (local coincidente com a entrada da escola, hoje existente). Tinha chovido com bastante intensidade dias antes, acentuando a permeabilidade do solo, com todas as características de zona húmida, tendo acontecido de imediato o afundamento da referida máquina, que ficou totalmente imobilizada, não obstante terem efectuado algumas tentativas para a libertar. Como homem apaixonado das ciências e conhecedor das Leis da Física, astrofísica, cosmologia e outros saberes, tirei as seguintes conclusões. Por causa da Lei Universal da Gravitação, descoberta por Isaac Newton, o caterpillar, afundou-se puxado pela gravidade em direcção ao centro da Terra, tendo ficado convencido, sem qualquer dúvida, que tal afundamento se devia também ao peso de todo o Povo da minha aldeia, que no momento e em cima dele se encontrava, legitima e dignamente por mim representado, tendo sentido, entre a troca de sorrisos saídos das três pessoas presentes, uma felicidade indescritível, por ter feito todos os possíveis e impossíveis por merecer tal cometimento”.
A todos muito obrigado.
Santa Marta de Portuzelo, 18 de Fevereiro de 2011
(Luís Gonzaga Parente Ribeiro Moreira)
Por Santa Marta de Portuzelo